Se para boa parte da população o zumbido é só aquele apito que aparece no ouvido depois de sair de um show ou festa com música alta, para outra parcela ele é um transtorno. Isso porque, para quem sofre com a doença — chamada tinnitus —, trata-se de um desconforto constante e que pode durar anos. Em 92% dos casos, o problema está relacionado à perda de audição. Já nos outros 8% ela não ocorre e, mesmo assim, essa gente toda padece com o "piiiii" incessante, para o qual ainda não há uma cura.
Na busca por uma solução, pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, induziram o zumbido em ratos, emitindo uma frequência sonora enquanto estimulavam com eletrodos o nervo vago dos roedores. Depois, fizeram o mesmo procedimento, mas desta vez se valendo de outras frequências. Os ratinhos, então, pararam de apresentar o incômodo, como se o cérebro tivesse sido reiniciado e voltado ao normal. Trata-se de uma evidência de que o tinnitus é causado por uma atividade irregular do sistema nervoso, enfatiza o neurocientista Michael Kilgard, que participou do estudo.
É claro que a descoberta animou os que sofrem com o barulhinho nada bom. Mas os testes foram realizados em bichos que haviam acabado de desenvolvê-lo. Por isso, talvez haja uma tendência de que a técnica, quando submetida a seres humanos, seja mais efetiva em quem tem o problema há pouco tempo, enfatizam os especialistas.
Enquanto a cura definitiva do zumbido não vem, o problema soa cada vez mais alto para a comunidade médica e os audiologistas em geral. Há um número crescente de jovens que se queixam do apito constante, principalmente de casos relacionados a lesões auditivas. "Aparelhos como iPod ou MP3 os expõem por horas a sons mais altos do que 85 decibéis". Com o tempo, esse volume já é suficiente para provocar danos generalizados. Além disso, o fone de ouvido, tão querido pela moçada, manda todo o som diretamente para dentro da orelha, aumentando a probabilidade de encrencas.
Mesmo o zumbido sem elo com perdas auditivas também é cada vez mais recorrente. Até um problema odontológico, por exemplo, pode desencadeálo. Pois é — a oclusão errada ou dentes apinhados demais podem incitar o tinnitus. "Toda força que fazemos com a dentição é enviada ao cérebro como uma informação a ser interpretada. Em algumas pessoas, esse impulso acaba sendo identificado como zumbido", explicam os odontologistas e ortopedistas faciais de plantão. Por isso, é interessante fazer um checkup no dentista para prevenir a zoeira sonora.
Agora, quando nem a audição nem a boca estão prejudicados, é hora de ver se os exames de sangue não se encontram alterados. Afinal, problemas como colesterol alto, anemia, disfunções na tireoide e desequilíbrios nos níveis de açúcar também podem repercutir no ouvido. "Se o sangue que chega à cóclea, estrutura que transforma o som em impulso elétrico, estiver com taxas de algumas substâncias muito alteradas, ele não será adequado para alimentar as células auditivas". Como o estrondo interminável tem diferentes causas, é preciso ter paciência na hora do diagnóstico. "Parei de trabalhar e de ir à faculdade. Estava no limite, tinha raiva do meu ouvido", afirma o estudante curitibano Thiago Marinho, de 24 anos, que convive com o ruído na orelha direita há seis meses sem saber ainda o que está por trás da chateação. Tentar esquecer é difícil, mas melhora a qualidade de vida, já que, segundo especialistas, a intensidade do zumbido aumenta de acordo com a atenção que se dá a ele.
De qualquer forma, é possível, sim, driblar o zum-zum interno. O uso de aparelhos auditivos auxilia os pacientes que têm dificuldade para ouvir. Afinal, a percepção adequada de outros sons desvia a atenção do alarido sem fim, mascarando o zumbido. Para pessoas com alterações metabólicas como anemia, o controle da alimentação é um dos grandes aliados. Além disso, o acompanhamento psicológico, em casos de muito estresse, também pode trazer bons resultados. O importante é não fugir do tratamento e assumir o controle da barulheira.
Ouvidos retreinados
Terapias sonoras costumam trazer bons resultados para pacientes com zumbido. A TRT, ou tinnitus retraining therapy, é a mais comum delas, e serve para quebrar a percepção negativa que a pessoa tem do zumbido. Ao ser exposto diariamente a um som neutro e agradável, o indivíduo atenua o incômodo com o ruído. Ao longo do tempo, o cérebro vai entender que ele tem capacidade de focar em outros sons que não só o zumbido.
60% das pessoas com zumbido são afetadas emocionalmente, de diferentes maneiras. Em casos extremos, pensam até em suicídio
50% têm dificuldade para dormir, porque afirmam que o ruído fica mais perceptível ou intenso no momento em que estão em silêncio
42% têm problemas para desenvolver atividades que necessitam de concentração, como estudar ou ler um livro
14% são afetadas socialmente. Isso porque deixam de frequentar alguns lugares, como festas, por temer que o som alto piore o zumbido
A origem da desordem...
...e como a nova técnica promete silenciá-la
1. A cóclea abriga células ciliares que captam as ondas sonoras e as transformam em impulsos elétricos enviados ao cérebro — é ali que o som é decodificado. Se algumas dessas células ficam comprometidas, suas vizinhas vibram em ritmo acelerado, disparando impulsos à toa, que são interpretados como um ruído. É o zumbido.
2. Eletrodos são posicionados no pescoço do paciente e emitem um estímulo que viaja até uma região do córtex cerebral responsável pela codificação dos sons. Reorganizados, os neurônios desse pedaço passam a ignorar as mensagens das células auditivas que estão fora de sintonia.
De qualquer forma o melhor remédio é a prevenção, portanto, controle sua exposição a barulhos e sons de alta intensidade por longos períodos e cuide de sua saúde geral, fazendo exames pediódicos de audiometria, sangue e outros que possam complementá-los.
Shalom!!
Diogo Barbosa e Silva
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