Em meu cotidiano, me deparo com diversos tipos de patologias, afecções e alterações que envolvem a comunicação do ser em um ou vários aspectos. No meu caso, como me especializei em audiologia clínica, nada mais natural me identificar no dia a dia com diferentes tipos de transtornos no âmbito da audição.
Na verdade há muito mais em comum entre a audiologia clínica e a música do que realmente as pessoas imaginam. Para ser franco, a música me direcionou primeiramente para a fonoaudiologia e em seguida para a especificidade em audiologia dentro desta graduação.
Aos 17 anos me submeti ao famigerado teste vocacional, pouco antes de prestar o vestibular. Confesso que ainda estava confuso com relação à minha futura profissão. Estranhei a princípio, mas após as primeiras sessões, as coisas iam se esclarecendo e tomando forma por si só, até chegar de fato às minhas inclinações vocacionais.
Graças às minhas aptidões musicais, pude compreender melhor os objetos de estudo compreendidos na fonoaudiologia como ciência, tais como: a linguagem como forma de expressão e conteúdo, o aparelho fonador, a laringe e todas suas estruturas, os aspectos físicos do som, freqüência fundamental, espectros sonoros e outros mais.
Mas o assunto em questão é algo que me fascina a cada dia de trabalho: A audição.
A audição é algo essencial ao ser humano, é o meio mais natural e direto de recepção através do som, pois sem ela não podemos adquirir ou abstrair informações para a construção de tudo que somos e representamos como pessoas, quanto mais para a nossa comunicação como indivíduos de uma sociedade amplamente interativa.
O ouvido é um órgão receptivo totalmente sensorial, ou seja, ele interage e “responde” mediante aos diferentes estímulos sonoros existentes. Ele se divide em basicamente 3 partes: Orelha externa, orelha média e orelha interna. A orelha externa compreende desde o pavilhão auricular até a membrana timpânica. A orelha média parte da membrana timpânica até a entrada do estribo (último dos 3 ossículos) na janela oval. A orelha interna compreende desde a cóclea até o córtex auditivo situado no lobo temporal.
O importante é salientar que a nossa audição pode ser acometida de diversas afecções e doenças, desde uma simples infecção de ouvido até um neurinoma do acústico, um tipo de tumor que acomete o nervo vestíbulo-coclear ou auditivo.
O percurso da passagem do estímulo sonoro é o mais fascinante, pois ao momento que o som percorre as 3 orelhas, há transformações peculiares à localização dos órgãos que são responsáveis pela transdução do som.
Ao passar pelas orelhas externa e média, a transdução do som é feita através de sistemas mecânicos, com mecanismos de alavanca, amplificando o som desde a sua entrada no conduto auditivo externo até o final do estribo em até 21 vezes, correspondendo a mais ou menos uns 60 dB de amplificação natural.
Na orelha interna, ao adentrar pela janela oval, o som percorre pela cóclea, um importante órgão sensorial da audição, que através da movimentação das células ciliadas externas, desencadeiam a bomba de sódio-potássio, despolarizando estas células e enviando já em forma de impulso elétrico-nervoso através das células ciliadas internas a informação pelo nervo auditivo até ao córtex auditivo, responsável pela recepção de todas as informações sensoriais auditivas.
Este fenômeno que ocorre durante o percurso da onda viajante pela cóclea se chama “Mecanismo Eletrobiomecânico” da Cóclea.
A perda auditiva mais comum, consiste na devastação das células ciliadas externas, responsáveis por fazer a transdução da forma mecânica em estímulos nervosos, localizada na cóclea. A etiologia ou causa mais comum e recorrente dessas “devastações” se dá pelo excesso de exposição ao ruído elevado em um determinado ambiente.
Ruído não se limita somente à um determinado som indesejado. Ele se classifica como toda e qualquer forma de estímulo sonoro em alta intensidade que apresente riscos à saúde auditiva mediante exposição prolongada e sistemática.
Vários músicos e artistas já foram acometidos por esta patologia pela longa exposição aos sons altos emitidos nos shows ao longo de anos e anos de carreira. O cantor Rod Stewart e o guitar hero Paul Gilbert são alguns desses que hoje defendem a prevenção da PAINPSE (Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados), pois, uma vez que se perde, esta lesão se torna irreversível.
Audiograma do guitarrista Paul Gilbert (observe o entalhe em agudos):
Portanto tome cuidado com a sua audição, como dizia o poeta Décio Pignatari:
"O ouvido não tem pálpebras"
Em breve discutiremos o que podemos fazer para prevenir a perda auditiva induzida por ruído ou música, no nosso caso...
Até mais moçada...
to até com medo de fazer um exame desses, acho que os anos com muito volume nos ouvidos me fizeram ter uma leve perda auditiva...
ResponderExcluirbom texto, é necessário refletirmos que volume não quer dizer "peso", preenchimento. Mas um bom volume é essencial para o eterno e honroso rock n' roll...